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O que aprendi ajudando startups a resolver conflitos entre sócios

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Foto: divulgação.

Uma reflexão sobre os erros mais comuns entre sócios, o impacto do silêncio nas decisões e como um pouco de estrutura pode salvar negócios promissores.

Desde 2011 acompanho de perto a jornada de empreendedores, investidores, hubs e startups em diferentes estágios, e nesse tempo, vi de tudo um pouco. Negócios que decolaram, outros que estagnaram, e muitos que tinham tudo para dar certo, mas foram enfraquecidos por conflitos entre os próprios sócios.

É claro que problemas com produto, mercado ou operação existem e fazem parte do jogo, mas o que mais me chama atenção é a frequência com que questões societárias se tornam o maior obstáculo para o crescimento. Relações que começaram com entusiasmo e parceria vão se desgastando com o tempo, enquanto a pressão do dia a dia aumenta, os interesses se desencontram, e a comunicação vai enfraquecendo.

Sociedade é relacionamento, e como qualquer relacionamento, precisa de base sólida. Confiança, escuta, clareza de papéis. Quando isso falha, o impacto aparece rápido, seja na tomada de decisão, na execução ou até na reputação da empresa.

Já presenciei startups que estavam prestes a fechar grandes contratos, mas recuaram porque um dos sócios não concordava com os termos e não havia nenhum critério combinado para lidar com o ime. Vi investidores desistirem ao perceber que os fundadores não tinham um acordo claro entre si. E vi negócios promissores ruírem porque ninguém teve coragem de tocar nos assuntos delicados enquanto ainda dava tempo de resolver.

A maioria dos conflitos não começa com uma discussão. Começa com silêncio. Pequenas frustrações que se acumulam, conversas adiadas, decisões mal comunicadas, acordos que ficam apenas na palavra. Quando se percebe, o problema já virou parte da rotina, e resolver exige muito mais desgaste do que teria sido necessário para prevenir.

Com o tempo, aprendi que os melhores times não são os que evitam conflitos a qualquer custo, mas os que sabem conversar, que combinam as regras do jogo com maturidade e tratam a sociedade com a importância que ela merece. Organizar a sociedade não é burocratizar o sonho, é proteger o caminho.

Definir, desde o início, como as decisões serão tomadas, o que acontece se alguém quiser sair, como será a entrada de um novo sócio ou investidor e quem responde por qual área, ajuda a manter a casa em ordem. Reuniões organizadas, atas registradas e combinados documentados trazem clareza, evitam mal-entendidos e dão segurança para que o negócio avance com mais maturidade. É muito mais fácil alinhar enquanto tudo está tranquilo do que tentar consertar no meio da tempestade.

Muita gente evita essas conversas por receio de parecer desconfiado ou criar tensão, mas o desconforto maior vem depois, quando o que era só um ruído vira bloqueio, desgaste emocional e, em alguns casos, o fim do negócio.

Startups que organizam bem suas sociedades brigam menos, crescem com mais segurança e estão mais preparadas para aproveitar as boas oportunidades quando elas surgem. E tudo isso começa lá no início, com uma conversa sincera, enquanto ainda está tudo bem.

Não é sobre prever o futuro, é sobre se preparar para ele. Porque em uma sociedade, o problema não é discordar. O problema é não ter combinado antes o que fazer quando isso acontecer.

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Advogado especialista em startups e negócios inovadores. Fundador do Rubiño Advogados e idealizador do Selo Rocket Base, o primeiro selo de segurança jurídica para startups no Brasil. Há mais de 10 anos atuando no ecossistema de inovação, auxiliando empreendedores, fundadores e investidores a estruturarem negócios com estratégia, clareza e boas conversas.

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